[...] Queridos amigos, também hoje o Ressuscitado entra nas
nossas casas e em nossos corações, apesar de às vezes, as portas estarem
fechadas. Entra doando alegria e paz, vida e esperança, dons dos quais temos
necessidade para o nosso renascimento humano e espiritual. Somente Ele
pode retirar aquelas pedras de sepulcro que o homem frequentemente coloca sobre
os próprios sentimentos, sobre as próprias relações, sobre os próprios
comportamentos, pedras que estabelecem a morte: divisões, inimizades, rancores,
invejas, divergências, indiferenças.
Somente Ele, o
Vivente, pode dar sentido à existência e retoma o caminho a quem é cansado e
triste, desesperançoso. É o que experimentaram os dois discípulos que no dia de Páscoa
estavam em caminho de Jerusalém a Emaús (Lc 24,13-35). Eles falam de Jesus, mas
a face deles está triste (v.17) exprime as esperanças frustradas, a incerteza e
a melancolia. Tinham deixado suas cidades para seguir Jesus com seus amigos, e
tinham descoberto uma nova realidade, na qual o perdão e o amor não eram mais
somente palavras, mas tocavam concretamente a existência. Jesus de Nazaré tinha
tornado tudo novo, tinha transformado a vida deles. Mas agora, Ele estava morto
e tudo parecia ter chegado ao fim.
De
repente, todavia, não são mais dois, mas três pessoas que caminham. Jesus se
aproxima dos dois discípulos e caminha com eles, mas eles são incapazes de
reconhecê-lo. Claro, tinham ouvido falar sobre a ressurreição e de fato, dizem:
"Algumas mulheres, das nossas vieram a dizer-nos de terem tido uma visão
de anjos, os quais afirmam que Ele é vivo (v 22-23).
Entretanto,
tudo isso não foi suficiente para convencê-los, porque eles não haviam
visto" (v.24). Então Jesus, com paciência, começando por Moisés e por
todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras, aquilo que era
referente a Ele (v.27). O Ressuscitado explica aos
discípulos a Sagrada Escritura, oferecendo a chave de leitura fundamental dela,
isto é, Ele mesmo e o seu Mistério Pascal: a Ele as Escrituras rendem
testemunho (Jo 5,39-47). O sentido de tudo, da Lei, dos Profetas e dos Salmos,
improvisadamente se abre e se torna claro aos olhos deles. Jesus tinha
aberto-lhes a mente e a inteligência diante das Escrituras (Luc 24,35).
Logo
em seguida, chegaram ao vilarejo, provavelmente à casa de um dos dois. O
forasteiro viajante faz como se quisesse andar mais longe (v.28). Também nós
sempre de novo devemos dizer ao Senhor com ardor: "Fique conosco".
Quando se pôs à mesa com eles, tomou o pão, recitou a benção, o partiu e o deu a
eles. (v.30). A repetição dos gestos realizados por Jesus na última Ceia é
evidente. "Então se abriram os olhos deles e o reconheceram" (v.31).
A
presença de Jesus, antes com as palavras, depois com o gesto do partir o pão,
torna possível aos discípulos de reconhecê-lo, e eles podem sentir em modo novo
quanto havia já sentido caminhando com Ele: "Não ardia o nosso coração
enquanto ele conversava conosco ao longo do caminho, quando nos explicava as
escrituras? (v.32). Este episódio nos indica dois lugares privilegiados onde
podemos encontrar o Ressuscitado que transforma a nossa vida: a escuta da
palavra, em comunhão com Cristo, e o partir o Pão; 'dois lugares' profundamente
unidos entre eles porque "Palavra e Eucaristia se
pertencem tão intimamente ao ponto de não poderem ser compreendidas uma sem a
outra: A Palavra de Deus se faz carne sacramental no evento eucarístico"
(Verbum Domini, 54-55).
Depois
deste encontro, os dois discípulos partiram para Jerusalém, onde encontraram
reunidos os onze e os outros que estavam com eles, os quais diziam:
"Verdadeiramente o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!" (v 33-34).
Em Jerusalém eles escutavam a notícia da ressurreição de Jesus, e por sua vez,
narraram a própria experiência, inflamada
de amor pelo Ressuscitado, que lhes abriu o coração em uma alegria que não se
podia conter. Foram,
como diz São Pedro, regenerados em uma experiência viva da ressurreição de
Cristo dos mortos (Pt 1,3). Renasce neles o entusiasmo da fé, o amor pela
comunidade, a necessidade de comunicar a boa notícia. O Mestre ressuscitou e
com Ele toda a vida ressurge; testemunhar este evento se torna para eles uma
enorme necessidade [...]
Por: Papa Bento XVI